Imagem capa - Dia com Vô por Camila  Ferreira
Experiências reais

Dia com Vô


Por um tempo venho me perguntando sobre fotografia documental de família. Vejo alguns trabalhos nas redes sociais e acho incrível; chego a ter inveja. Essas famílias terão registros lindos pra contar sua prórpia história. Fotos que irão contar a história do lugar, da casa onde cresceram, quem cresceu entre outros detalhes das histórias.


Eu nasci no final da era da fotografia analógica. Até o final da minha primeira década de vida, meus pais compravam filmes com 12/24/36 poses e registravam os momentos mais importantes da família. Pensar que tenho poucas fotos de momentos cotidianos da minha vida sobre quem sou, onde cresci, com quem cresci é doloroso. Muita coisa se perdeu no tempo por causa da era digital. Tenho alguns CD's com fotos da familia, mas alguns não funcionam mais. 


Sou fotógrafa e dedico minha vida a registrar a vida dos outros. Muitas vezes, são pessoas que não conheço, mas que contratam meu trabalho pra que eu possa reproduzir lembranças de momentos importantes em suas vidas. Para isso, acabo por deixar minha família de lado para me dedicar aos momentos dos outros.  Por isso me pego a pensar: se faço isso sempre, tenho o dom, a técnica e o equipamento, por que eu não faço isso pra mim mesmo? Porque não reproduzo minha própria história, documento minha própria família? 


Nessa vida moderna de smartphone, nuvens de armazenamento e beckup de fotos, nos acostumamos a registrar tudo de uma forma solúvel e com um valor emocional que evapora em um pouco espaço de tempo. Temos todas as tecnologias disponíveis na palma na nossa mão, mas porque não usamos de nossas câmeras pra registrar os momentos importantes pra nós? A fotografia é o documento mais sublime da nossa história e de resgate da história dos nossos passados. Mas, por que não temos? 


Decidi fazer alguma coisa pra mim e pra minha familia da forma como se deve ser. Um pouco da minha história, poder revelar uma foto e escrever a data atrás. Decidi fotografar o meu avô. Foi a maior e genuína festa; dentro e fora de mim. Porque talvez, eu seja a responsável pelos registros mais importantes do Vô. 


No final, dou-lhes um conselho. Tire sua câmera da mochila e fotografe seus pais, seus avós, filhos, tios, esposo (a), filhos. Se não o souber, chame alguém que o faça. Não deixe sua história ficar sem um documento visual. Conte sua história através da fotografia. Use da sua arte como arma pra não deixar o tempo levar o que você poderia guardar com um simples registro de um dia comum.











Hoje, o dia acordou pedindo foto; do meu avô, especificamente. Era um dos meus desejos, mas eu senti que o momento certo chegou só agora pra guardar o som, cheiro e sabor num clique. Ao som de cada clique da minha câmera, mais criança eu ia ficando. Os bodes e galinhas que eu alimentava, foram aparecendo naquele cenário. O cheiro do leite da vaca tirado na hora depois de seguir aquele homem com uma mística por trás da fumaça do seu fumo por entre as plantações de milho do meu cariri.  Na mão do meu avô, voltava um balde de leite; na minha, voltava um caroço de manga e na outra, uma boneca de milho. E quando eu já não tive mais idade, a saudade fez escorrer lágrimas dos meus olhos. Foi quando eu senti saudades daquele homem que não precisa de dentes pra sorrir, enquanto eu tenho não falto um e por vezes, eu não rio. Preciso sentar no colo dele e aprender como é que ele ri sabe tão bem me ajudar a fazer os tantos planos que eu perdi pelos asfaltos do destino.


Como a vida é simples, Vô. Como o amor é simples e como a fotografia é simples. Nunca vou olhar mais pra aquelas folhas com os olhos vazios, pois existe muita vida debaixo daquele verde molhado da chuva. Vô, tu encheu meu peito e lavou minha alma. Obrigado por me ensinar que fazer o que gosta é a melhor coisa da vida. Sinto imensa sensação de vitória, gratidão e alegria todos os dias. 


O textinho lindo que fala sobre o vô é de autoria do Bertrand Morais, a parti de algumas palavras minhas e alguns áudios de whastapp, ele conseguiu traduzir todo sentimento que tenho pela fotografia e pelo Vô.  GRATIDÃO!!!